27 de mai. de 2011

E-mail-macho

Se existe algo que nunca devemos fazer é enviar um e-mail quando estamos nervosos. Aliás, quase nada de importante deve ser feito em momentos de emoção extrema. E e-mail..., aquele que fica registrado para a eternidade digital, nem pensar.

Mas existe um truque, para que a gente não decepcione nosso lado impetuoso. A primeira coisa a ter em mente é que, sim, você quer moer na pancada a criatura destinatária. Isso já é um bom começo para não se enganar e achar que está aliviando no argumento.

Isto devidamente incorporado, é hora de usar a técnica milenar a qual vou compartilhar gratuitamente agora. Não use o botão “Responder” e muito menos o “Responder a todos” no e-mail. Use o “Encaminhar”. Assim, o campo “Destinatário” ficará vazio e você não correrá o risco de apertar “sem querer” o botão “Enviar”. Então... você solta o verbo sem se preocupar nem com as vírgulas. Imagine que as palavras são violentos golpes em sequência no corpo de seu adversário. Mas é pra escrever mesmo, sem restrições.

Acabou? Não leia. Coloque você mesmo como destinatário e envie. Não leia ainda. Vá tomar um café, bater papo com alguém ou simplesmente dar uma volta. Pelo menos vinte minutos depois, olhe para sua caixa de entrada. Você vai ver o remetente: você. Lembre-se que é isso que a outra pessoa verá. Então abra e leia.

Ao acabar de ler, se ainda quiser enviar a sua poesia contemporânea, vá em frente. Não tenho argumentos para dissuadi-lo. Você é realmente sobrinho do Charles Bronson. Mas, na maioria das vezes, você irá recuar. Talvez até se assuste com sua literatura.

É provável que quatro dos cinco parágrafos sejam sumariamente deletados e que, no que ficou, exista alguma frase parecida com “...e como sabemos, todos queremos o melhor para o projeto, então sugiro...”.

Vai por mim. É mais civilizado, melhorará seus relacionamentos e não afetará em nada sua portentosa virilidade.

20 de mai. de 2011

Algo a declarar?

Agora existe um ritual diferente de manobristas ao verificarem nosso carro antes de assumirem o controle do bólido. Eles dão a volta completa pelo veículo e em dados momentos levantam o braço para o manobra-boss, que fica no púpito supervisionando a parada toda.

E não dá pra entender muito bem o procedimento. Quando eles levantam a mão, ta tudo bem? Ou foi porque acharam um ovinho na lataria, um risco, um amassado, uma cagada de pomba?

De qualquer forma, quem tem que ser cada vez mais revisor somos nós, e não eles. “Doutor, tem algo no interior do veículo que o senhor queira declarar?”. Não, só meu iPod, meus óculos, o documento do carro, meu canivete suíço, seis CDs na disqueteira, meu GPS, o cabo de força do GPS e os dadinhos pendurados no retrovisor.

E o mais legal é pegar aquela estrada, acelerar tranqüilo, curtir a paisagem e ter um pneu furado. Você abre o porta-malas e vê o macaco ali, brilhante, incólume. Mas... cadê a chave de rodas?

13 de mai. de 2011

Multitask

Eu sei, eu sei. Todos nós somos obrigados hoje em dia a fazer um pouco de tudo ao mesmo tempo. Mas...

Já viu um cara andando em círculos e falando sozinho, mexendo as mãos e parando de vez em quando como quem espera algum sinal para continuar sua caminhada? Você só não vai ao encontro do sujeito oferecendo ajuda se perceber a tempo que ele está com um fone bluetooth no ouvido. Quando está sozinho, vá lá, mas deixar um garçom esperando, com o bloquinho na mão, enquanto você consulta a Bolsa de Tóquio, é sacanagem.

E quando você vai conversar com alguém em seu lugar de trabalho e a pessoa olha insistentemente para o teclado e a tela a sua frente e você não sabe se continua falando ou se joga o grampeador na fuça dele? E o pior é que, se não nos policiarmos, nós fazemos exatamente isso. Não, não pode ser normal.

É o mundo onde o tempo é o bem mais valioso e, portanto, o utilizamos compartilhado. Não tem saída. Falar ao telefone enquanto se verifica algo no computador, ou ver TV enquanto se diverte no iPad é perfeitamente aceitável. E até indicado, para que não fiquemos tão defasados em relação a espetacular capacidade multi-tarefa da geração Y.

Mas quando envolve pessoas, ali, ao vivo... tome cuidado. Eu vou tomar.

7 de mai. de 2011

Eu tenho. Vocês não têm.

Eu tenho, vocês não têm.


Até muito pouco tempo no Brasil vivíamos a época do “eu tenho, vocês não têm”. Isso acontecia quando ouvíamos frequentemente que o Brasil era o país do futuro. E era simples: poucos tinham muito, alguns tinham pouco, muitos não tinham nada. Mas nada quer dizer “nada mesmo”, neste caso.

O problema é que o futuro chegou. E com ele, uma crise de identidade veio a galope. Dizer em uma roda de amigos que você viu algo no Orkut é o mesmo que dizer que você freqüenta baile funk. É o medo que temos de nos aproximarmos e de tentar, pelo menos, entender as pessoas que vêm das classes outrora menos favorecidas. Antes era fácil se destacar por um modelo de celular ou de carro. Hoje, até entre nós, a briga ficou mais acirrada. “Você ainda não tem o iPad 2?”.

E não adianta correr. A turma vai invadir o Facebook. Eles são maioria. Não nós.

E isso é bom. Se não tivéssemos novas pessoas consumindo, todos nós estaríamos sem emprego. O mercado é complexo, mas tem nuances de simplicidade. A economia roda com injeção de capital ou com oferta gerada por demanda. E sem demanda, babau.

Eu sei que é duro soltar as amarras. Tantos anos ouvindo que somos gente fina. Mas não pensem que eles gostam de Calypso e rapadura. E só. Eles não gostam “também” de picanha argentina e de vinho francês porque ainda não provaram. Ainda.

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